Estudando as profissões

Desenho de lousaPor Amanda Farias. Fotos: Amanda Farias e Caio Lavenère
Foi com grande entusiasmo que as crianças do terceiro ano estudaram e vivenciaram algumas das profissões do homem. Aprenderam sobre o "fazer" específico de cada trabalhador dentro da sua profissão. Também olhamos paras qualidades desenvolvidas e ferramentas de trabalho necessário para cada diferente trabalho. Conhecemos de perto o trabalho do oleiro, marceneiro, tecelã, agricultor, o carteiro e finalmente o pescador. Aqui na ilha temos, ainda hoje a pesca artesanal da tainha. Movimento que só acontece em uma época específica do ano, quando as condições climáticas são favoráveis. No período de abril a julho, os cardumes se aproximam da costa catarinense. A pesca artesanal tem acontecido a mais de 250 anos, desde a época da chegado dos açorianos a ilha.
Numa tarde de quarta-feira, fiz uma visita a Barra da Lagoa na intenção de agendar e conhecer algum pescador que se prontificasse a responder as perguntas das crianças. Mas o movimento estava devagar. Os muitos pescadores pareciam não terem nada o que fazer, com excessão de alguns mais velhos que se ocupavam em custurar e consertar metros sem fim de redes.

De repente,uma agitação geral tomou conta da praia, todos gritavam e se movimentavam rapidamente; um cardume de tainhas tinha sido visto pelos vigias situados em pontos estratégicos. Mais tarde fiquei sabendo que essa movimentação se chama "saragaça". Rapidamente, alguns homens empurraram uma grande e pesada embarcação mar adentro. Outros pulavam para dentro do barco e empunhavam grandes remos e numa euforia e aos gritos, remaram com força para atravessarem a arrebentação.

Em total harmonia, soltavam a rede de mais de 1000 metros de comprimento. A embarcação adentrou uns 500 metros mar a fora, fazendo um cerco a volta do cardume e começaram seu retorno em direção a praia. Eram em média 50 homens trabalhando sem parar, na mais perfeita sincronicidadee presença de espírito, cada um sabendo exatamente o que devia ser feito. Na praia, dois grupos se dividiam,

puxando as duas extremidade da rede, enquanto outro grupo ficava dentro d'água verificando para nenhuma tainha escapar. Homens, meninos e velhinhos, todos tomados pela mesma excitação. O momento máximo de "saragaça" foi quando finalmente podemos ver a quantidade de peixes no fundo da rede.

Agora o trabalho era tirar os peixes da rede e juntá-los para fazer a divisão entre o s donos da canoa e as pessoas que ajudaram na pesca. No final, fui apresentada ao Tim, que é o Presidente da Associação de Pescadores da Barra da Lagoa, que atendeu de imediato o meu pedido de tirar dúvidas das crianças sobre o ofício do pescador.
No dia seguinte lá fui eu com minhas crianças, no horário e local combinado com o Tim. Ele já estava lá quando chegamos, e ouviu com atenção e respondeu carinhosamente as perguntas:
"-Com quem você aprendeu a pescar?"
"-Mulher também pode pescar?"
"-Como se faz um barco?"
"-Como você sabe se o peixe é macho ou fêmea?"
"-Como os vigias conseguem ver os cardumes se aproximar?"
"-Como você sabe se o tempo está bom para pescar?"
"-Por quê seu barco se chama Saragaça?"

Infelizmente naquele dia nenhum "lance" de tainha ocorreu na praia, mas em compensação barcos grandes e motorizados chegavam do alto mar carregados, trazendo de 1000 a 3000 tainhas. E acena de todos trabalhando juntos se repetiram, com alegria renovada e vigor de cada dia.